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Comitê é criado para a preservação, pesquisa e divulgação da culinária amazônica

Postado em 25 de outubro de 2019 por Michele em Evento, Gastronomia, Gerais, Turismo

Que a Amazônia é rica em sua biodiversidade, é algo de conhecimento mundial. A preservação desse imenso ecossistema é um tema de preocupação mundial. Mas o que representa essa riqueza de fauna e flora, e quais os impactos positivos de novas descobertas de espécies vegetais na culinária regional, em especial a paraense? Como manter viva as tradições desta mesma culinária e divulgá-la para o mundo?

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Foi pensando nesses desafios que um grupo de chefs de cozinha, professores, mestres e doutores, além de profissionais de outras áreas, decidiram criar um comitê integrado para desenvolver ações pelo estudo, preservação e difusão da mais autêntica culinária brasileira. A primeira reunião ocorreu na noite da última quarta-feira, no Núcleo de Medicina Tropical da UFPA.

“É um sonho coletivo. Não é pessoal. É o sonho de diversas pessoas. É um dia histórico para a gastronomia, para o estado e para a Amazônia”, definiu o chef Herlander Andrade, um dos idealizadores do comitê. Com mais de 35 anos na prática e paixão pela gastronomia, Andrade conta que se baseou no trabalho do chef peruano Gastón Acurio Jarramilo para amadurecer a ideia e captar outros “sonhadores” e amantes da culinária regional.

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“Gastón não priorizou a si, sua personalidade, mas trouxe com ele uma história de valorização da culinária peruana. Daí temos hoje o destaque alcançado pela culinária daquele país. Acúrio não tem nenhuma estrela Michelin em seus restaurantes, tampouco acho que se interesse por isso, mas o que fez é simples e de um resultado fantástico”, destaca Herlander.

O professor e Dr. Evander Batista, coordenador do laboratório de protozoologia do Núcleo de Medicina Tropical da UFPA, se diz um apaixonado pela gastronomia e que seu principal interesse no comité será avaliar a questão da saúde pública no uso dos ingredientes utilizados na culinária regional. “É um sonho se realizando e vendo a participação de tantas pessoas no início deste processo”.

Batista acrescentou que o Núcleo estará à disposição para o desenvolvimento de pesquisas conjuntas e posterior divulgação dos resultados desses trabalhos acadêmicos. A Nossa ideia é divulgar esse material para outros países e centros de pesquisa”, explicou.

Preservação – O professor Antônio Carvalho e chef Herlander levaram aio debate os riscos que a modernidade está trazendo para a culinário paraense. “Hoje a criança do interior, ribeirinha, não quer saber mais das frutas, do açaí, do peixe. Hoje pede o macarrão miojo, os skilhos. Precisamos trabalhar e respeitar esse etno-conhecimento”, afirmou.

Herlander destacou a preocupação da perda da identidade da culinária regional e citou o desaparecimento lento, mas constantes das tacacazeiras da cidade. “Estamos perdendo isso. Elas estão sumindo. É preciso fazer o resgate dessa cultura e preservá-las”, defendeu o chef.

O professor de história e mestre Délio Reis Matos de Aquino, chamou atenção ao relatar sobre sua pesquisa de mestrado que teve como tema: Plantas Alimentícias Não Convencionais no contexto da Educação Ambiental (PANC), desenvolvido na comunidade Nossa Senhora dos Navegantes, na região das ilhas de Belém.

Desconhecimento – Délio destacou que existem pelo menos 2 mil espécies de plantas não convencionais já catalogadas, e boa parte desse quantitativo passa por pesquisas para análise de suas propriedades nutricionais e farmacológicas. Um exemplo citado, e que surpreendeu os chefs veteranos, foi o uso da Urtiga na preparação de pratos, tais como a omelete. “Ela tem alto poder nutritivo. A jurubeba, a Erva de Jabuti e o maracujá do mato são outros alimentos riquíssimos que são ignorados por nós”, destacou.

Cheiro Verde – O professor Délio surpreendeu a todos os presentes ao citar por exemplo o desconhecimento que temos de espécies tão comuns em nossas cozinhas. O nosso Cheiro verde, a nossa chicória, até mesmo a alfavaca, que todos pensamos ser originários da Amazônia, não são. Vem todos da Europa e da região do Mediterrâneo”, contou. Mas para o alívio geral, nosso treme-treme, o Jambu, é totalmente regional, garantiu Aquino.

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A doutora em Ciências Sociais, Elisa Vasconcelos, também destacou a importância da criação do comitê e questão do desconhecimento sobre as plantas alimentícias da região. “É dificuldade enfrentada por pesquisadores para desenvolver pesquisas no país’, disse.

Elisa citou o exemplo do açaí, que graças as pesquisas realizadas no Brasil, que hoje já se sabe, previne o desenvolvimento de células cancerosas, alivia os efeitos no organismo de quem passa por tratamento quimioterápico, além de propriedades rejuvenescedoras. “Essa iniciativa (do comitê) é maravilhosa. Espero que seja ampliada de forma multidisciplinar”.

A reunião contou ainda com a presença dos chefs, Delano de Souza, Therezinha Monteiro, Rita de Cássia Lobato e dos professores Antônio Carvalho e Marcos Alves. A próxima reunião do comitê deve ocorrer no dia 20 de novembro, no Núcleo de Medicina Tropical da Ufpa. O NMT fica localizado na avenida Generalíssimo Deodoro, nº 92.

Texto: Márcio Cruz

Fotos: Fernando Nobre

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